(Salvador Dalí)
A temática escolhida é interessante e, efectivamente, um bom exemplo a trabalhar indo de encontro a um paradigma interpretativo na realidade a que se sustem, recolhendo informação consistente e de forma periódica.
No que diz respeito à questão dos portefólios, o desenvolvimento de um estudo deste tipo não deixa também de ser curioso, estando voltado para a disciplina de Matemática porque, de facto, o conceito de portefólio começou por estar em consonância com as áreas artísticas e é, em contexto escolar, instrumento preferencial na área das línguas.
No meu caso particular trabalhei durante um ano lectivo com portefólios aplicados à minha disciplina, ou seja, Português, com alunos do 10º ano, tendo sido uma decisão conjunta do grupo disciplinar. Assim, os alunos para além de o fazerem na disciplina de Inglês, passaram a fazê-lo na disciplina de Português. No nosso caso, este trabalho durou apenas um ano lectivo porque, tal como a autora aponta, há uma série de situações negativas associadas a esse tipo de trabalho. Pode parecer absurdo, mas é realmente complicado transportá-los e avaliá-los, principalmente se o professor tiver 5 ou 6 turmas do mesmo nível, com cerca de 25 alunos em cada uma. Outro problema seria a ausência de observação e intercâmbio dos portefólios entre alunos, pois cada um apenas se preocupava em trabalhar e observar o seu. Para além disso os alunos esforçavam-se na construção deste não ao longo do ano, mas perdiam uma noite, em cada módulo ou período escolar, ou seja, trabalhavam na véspera, apenas para mostrar o produto final com o intuito da avaliação.
Construir um portefólio electrónico poderá vencer estes problemas, pois estará sempre disponível para ser observado e controlado pelo professor, e se os objectivos e metas forem bem traçados, cada aluno fará desse instrumento não apenas um elemento de avaliação, mas um momento constante de reflexão e trabalho, revelando o seu crescimento e a sua aprendizagem contínua. Tendo ainda a vantagem adicional de ser visível a toda a comunidade, não só ao professor, mas aos colegas e aos próprios pais.
(Quadro de Kandinsky)
A plataforma Moodle, que é uma das possibilidades apontadas pela autora, resulta muito bem neste campo, sendo aliás usada em muitas comunidades escolares, pois permite a ligação entre toda a comunidade e entre as próprias disciplinas, naquilo que se considera favoravelmente como interdisciplinaridade. Quando uma das escolas onde leccionei implementou a plataforma, todos os docentes foram incentivados a usá-la como espaço de trabalho privilegiado. A recordação que tenho desse ano é bastante positiva, pois foi uma forma de responsabilizar os alunos, já que estes utilizavam a plataforma para entregar, no espaço dedicado à sua turma, os trabalhos exigidos pelo professor, e o próprio professor tinha ali um canal de comunicação rápido e eficaz, assim como uma forma de controlo da evolução do aluno e da própria criatividade e sensibilidade, muitas vezes esquecidas na formação escolar. Os alunos comportavam-se de forma mais autónoma, sem esperarem que o professor lhes estendesse a mão e os acompanhasse no percurso educacional para ajudá-los a vencer o medo, a insatisfação ou a desmotivação, simplesmente porque se criou um espaço livre num ambiente bem conhecido de cada um, ou seja, uma “casa” na Web.
No que toca ao portefólio, quando este passa a ser electrónico parece sofrer uma metamorfose, porque algo que parecia abominavelmente cansativo, uma mera obrigação escolar, torna-se algo mais acessível e motivante, nem que seja por estar longe de um papel e de uma caneta. Num espaço assim, se me é permitida a metafórica expressão, podemos “aprisionar” os alunos e, fazendo uso de uma imagem bíblica, congelar as suas produções escolares, fazendo-as padecer da eternidade como testemunhas de vida.
Este factor supracitado vai de encontro à conservação da memória, precisamente aquilo que se fez à literatura tradicional, ou seja, começar a publicá-la com o advento da imprensa para não se perder nos confins da memória de cada um. Assim, far-se-á o mesmo com a Web, que servirá como veículo de transmissão, conservando uma experiência académica que, caso contrário, um dia poderia aparecer num caixote qualquer do sótão de casa.
(Jackson Pollock)
Fazer um estudo sobre portefólios electrónicos é uma fonte de utilidade e actualidade, porque as políticas tecnológicas emergentes incitam à aproximação das tecnologias na vida de todos nós. Podemos confirmá-lo na própria avaliação de cursos de educação e formação de adultos e na validação de competências, feitos com base na construção de um portefólio reflexivo que contenha a dita aprendizagem ao longo da vida, culminando nos ensinamentos actuais e numa reflexão que vá de encontro à evolução e crescimento pessoal e académico de cada formando.
Em suma, este é um estudo coerente que merece ser destacado porque pretende reafirmar a necessidade de fazer do ensino não um sistema obsoleto, com metodologias arcaicas e repetitivas, mas fazer com que este evolua e se adapte a toda a tecnologia. A importância da criação e aplicação de um instrumento de trabalho como o portefólio será essencial nos momentos de aprendizagem e respectiva avaliação, desde que haja uma exigência e um controlo por parte do professor, para evitar que os alunos caiam na tentação do mal do século da informação, o copy paste, e podendo abrir um caminho que se vá alargando à exploração de temas e gostos pessoais de cada um que possam depois ser incorporados no próprio portefólio electrónico, não só no culminar dos momentos de avaliação.
Sem comentários:
Enviar um comentário